sábado, 10 de dezembro de 2011

A APRENDIZAGEM E OS SEUS DESAFIOS



Angélica Aparecida Rosa dos Santos


Introdução


Este trabalho traz uma reflexão acerca do conceito de aprendizagem e também seus desafios, reflexão esta necessária para a formação do futuro psicopedagogo. Este texto possui um estudo de caso real no qual a criança citada apresenta alguns sintomas de dificuldade de aprendizagem indicados pelos profissionais que atuam juntamente com ela na escola, no entanto também tem a posição contrária da família diante da situação em que se encontra o menino. Portanto há um trabalho de diagnóstico e intervenção que precisam ser realizados e para isso, na posição de futura psicopedagoga, é necessário fazer algumas leituras e reflexões, objetivo este principal do trabalho, para melhor poder intervir e ajudar essa criança.
De acordo com Grassi, (2009, p.48) a psicopedagogia nasceu, cresceu e se ampliou ao longo do século XX, chegando ao século XXI com uma série de desafios a vencer. A dificuldade de aprendizagem e o fracasso escolar continuam sendo problemas não equacionados, que aumentam cada vez mais e assumem novas formas, pois o mundo se transforma e se modifica. O contexto em que tais problemas aparecem não é mais o mesmo, é dialético; outras necessidades surgem, outras questões afligem o homem, outros caminhos precisam ser trilhados.
Nesse contexto o trabalho do psicopedagogo deverá levar em consideração o conhecimento das diversas áreas que pesquisam o processo relacionado ao ensino/aprendizagem, pois se trata de uma área interdisciplinar, neste trabalho relacionaremos a importância da Psicomotricidade e da Psicolinguística. É necessário também analisar todos os elementos que fazem parte desse processo e os fatores que podem condicionar as dificuldades de aprendizagem.

A aprendizagem e os seus desafios

De acordo com Ciasca (2003, p. 220) a aprendizagem vem sendo estudada cientificamente desde o século passado, embora tenha tomado maior espaço e relevância no meio acadêmico entre as décadas de 1950 e 1970. Junto com os avanços obtidos com as pesquisas, diversos conceitos foram apresentados como uma tentativa de melhor explicar a aprendizagem e como se dá o seu processo. Apesar de existir diferentes conceitos, todos eles concordam que a aprendizagem implica numa relação bilateral, tanto da pessoa que ensina como da que aprende. Dessa forma, a aprendizagem é mais bem definida como um processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível físico como biológico, e do ambiente no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos comportamentos.
Para Lakomy (2008, p. 19) o processo de aprendizagem tem sido estudado, de modo direto ou indireto, por teóricos que se dividem basicamente em dois grupos: os teóricos comportamentais (behavioristas) e os teóricos cognitivistas (interacionistas).
Para os teóricos comportamentais, o resultado da aprendizagem é uma mudança de comportamentos observáveis, causada por fatores externos ou estímulos ambientais ou reforços (punição ou recompensa).

Para os teóricos cognitivistas, a maturação biológica, o conhecimento prévio, o desenvolvimento da linguagem, o processo de interação social e a descoberta da afetividade são fatores de grande relevância no processo de desenvolvimento da inteligência e, consequentemente da aprendizagem.
A aprendizagem é, portanto, um processo que ocorre durante toda a vida e pode ser caracterizada da seguinte forma:

ü  Processo que ocorre no sistema nervoso central (SNC)
ü  Produto da experiência
ü  Nova informação
ü  Produz uma mudança de comportamento
ü  Depende de condições neurobiológicas e ambientais.

Sendo a aprendizagem um processo constituído por diversos fatores, é importante ressaltar que além do aspecto fisiológico referente ao aprender, como os processos neurais ocorridos no sistema nervoso, as funções psicodinâmicas do indivíduo necessitam apresentar certo equilíbrio, sob a forma de controle e integridade emocional para que ocorra a aprendizagem. Entretanto, "o desenvolvimento harmonioso da aprendizagem representa um ideal, uma norma utópica, mais do que uma realidade. Dessa forma, o normal e o patológico na aprendizagem escolar, assim como no equilíbrio psicoafetivo, não podem ser considerados como dois estados distintos um do outro, separados com rigor por uma fronteira ou um grande fosso” (Ajuriaguerra e Marcelli in Möojen, 2001).
Conforme Gómez (2009, p. 29) desde o princípio de sua vida o bebê está aprendendo. Em seu cérebro, trilhões de neurônios estão esperando para serem conectados. Algumas dessas conexões foram realizadas pelos genes durante a fertilização, nos circuitos que controlam a respiração e batimentos cardíacos, nos que regulam a temperatura ou produzem reflexos. Porém, um grande número de neurônios está pronto, são puros e seu potencial é infinito. Algum dia estarão conectados para realizar um cálculo matemático ou, talvez, pra escrever uma poesia.
De acordo com Smith (apud Gómez 2009, p. 29) o desenvolvimento da linguagem ilustra bem a aprendizagem nos primeiros anos. Por volta dos cinco ou seis anos a criança tem um vocabulário de aproximadamente 10.000 palavras. Isto significa que desde seu nascimento tem aprendido mais ou menos 2.000 palavras ao ano; isto foi realizado sem um esforço visível e sem instrução formal.
Godoy, (2009, p. 33) ressalta que

é importante observar que, no desenvolvimento da fala, como no desenvolvimento de qualquer outro tipo de aprendizagem (sentar, andar, agarrar etc.), as etapas se fundem e não podem ser distinguidas por datas e momentos; além disso, diferentes crianças passam por essas etapas em idades ligeiramente diferentes e a duração de cada etapa de desenvolvimento também é individual.

Podemos dizer então que, não há uma receita única. Cada criança é um ser humano único e importante. Respeitar essa individualidade, aceitar as diferentes formas de sentir, pensar, agir, de aprender é um ponto básico na educação de todos.
Um dos maiores desafios sociais então que a Educação do século XXI tem é justamente a integração e socialização das crianças com problemas de aprendizagem.
Segundo Gómez, (2009, p. 07) os problemas de aprendizagem procedem essencialmente da capacidade de conceitualizar e processar a informação, assim como do desenvolvimento das destrezas. As habilidades afetadas com maior freqüência são: leitura, escrita, processamentos auditivo e da fala, raciocínio e matemática. Os problemas de aprendizagem são causados por diferenças no funcionamento cerebral e na forma pela qual o cérebro processa a informação. As crianças com problemas de aprendizagem não são incapazes ou preguiçosas. De fato, geralmente têm um nível de inteligência similar ou superior à média. O problema reside no fato de que seus cérebros processam a informação de uma forma diferente da maioria.
Não é fácil detectar quando uma criança tem dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, porém existem alguns indicadores que podem ser observados para ajudar no diagnóstico e tratamento do problema. A seguir faremos um estudo de caso que nos auxiliará à melhor entender como pode ocorrer esse processo.

Estudo de caso

Tiago é um menino de 9 anos, que frequenta o 4º ano do Ensino Fundamental numa escola pública. Segundo sua professora, Tiago tem muita dificuldade para prestar atenção na aula, distrai-se facilmente e fica com a mente vagando pelo "mundo da lua" quando ela está falando. Tem pouca paciência para estudar e fazer os deveres, é agitado, inquieto e apresenta uma capacidade incrível para fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Seu  desempenho acadêmico em leitura, escrita e cálculo está sendo prejudicado por estes sintomas e ninguém está sabendo como trabalhar com ele. Qualquer movimento é capaz de desviar sua atenção. Só consegue permanecer mais tranquilo, quando ele se dedica a fazer algo estimulante ou do seu interesse. A pedagoga da escola está preocupada com seu comportamento, pois ele não pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. Consideram ele como bagunceiro, e quase sempre é mandado para a sala da diretoria, onde sempre leva uma bela bronca. A mãe de João Pedro, Dona Clarice, foi chamada para conversar com a equipe pedagógica, por diversas vezes ao longo do ano. Segundo a mãe, eles se queixavam de que Tiago não pára quieto um minuto, tira a atenção dos coleguinhas e que atrapalha a aula. “Certa vez uma pedagoga escolar chegou a insinuar que um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do meu filho - Ela disse na minha cara que atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa educação dos pais” – desabafou a mãe. Segundo a diretora, uma das principais dificuldades do Tiago, são os problemas de comportamento no ambiente escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar rígido e pela agitação na sala de aula. “Tiago tem dificuldades para manter atenção em atividades muito longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Distrai-se com os estímulos do ambiente externo, mas também se distrai com pensamentos "internos", isto é, vive "voando". Nas provas, são visíveis os erros por distração (erra sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, ele é visto como esquecido: esquece recados ou material escolar, aquilo que estuda na véspera da prova, entre outras coisas” - acrescentou a Pedagoga da escola. Diante das queixas a escola resolveu encaminhar Tiago para uma avaliação psicopedagógica. 

 Análise do caso do aluno Tiago:


            Para dar início ao estudo de caso do aluno Tiago é necessário fazer um levantamento do comportamento apresentado por ele no ambiente escolar, levando-se em conta as queixas da professora, diretora e a equipe pedagógica da escola. Em seguida será realizado um levantamento das hipóteses diagnósticas possíveis, diante do quadro apresentado. E por fim serão apresentadas sugestões de medidas de intervenção e sugestões de apoio pedagógico e/ou clínico indicado para o caso de Tiago partindo do pressuposto de que toda escola deve atender a todos os alunos.

O aluno Tiago apresenta o seguinte comportamento:

ü  Tem muita dificuldade para prestar atenção na aula;
ü  Distrai-se facilmente e fica com a mente vagando pelo "mundo da lua" quando a professora está falando;
ü  Tem pouca paciência para estudar e fazer os deveres;
ü  É agitado, inquieto e apresenta uma capacidade incrível para fazer milhões de coisas ao mesmo tempo e quase nenhuma delas associada à aula,
ü  Movimenta-se o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas;
ü  Seu desempenho acadêmico em leitura, escrita e cálculo está sendo prejudicado por estes sintomas;
ü  Qualquer movimento é capaz de desviar sua atenção,
ü  Só consegue permanecer mais tranquilo, quando ele se dedica a fazer algo estimulante ou do seu interesse;
ü  Bagunceiro, e quase sempre é mandado para a sala da diretoria;
ü  São visíveis os erros por distração (erra sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, ele é visto como esquecido e um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema, segundo a pedagoga;
ü  São os problemas de comportamento no ambiente escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar rígido e pela agitação na sala de aula, segundo a diretora.

Alunos agitados ou desatentos sempre causam preocupação. No entanto antes de atribuir a eles um diagnóstico de distúrbio, é preciso observá-los atentamente, não só na escola, mas em outros ambientes também. Existe hoje uma tendência muito grande pelo diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). No entanto, nem sempre o comportamento que destaca o aluno do grupo está relacionado ao distúrbio. Há uma série de componentes sociais que também levam a criança a manifestar-se de modo não convencional é o que diz Sílvia Russo, coordenadora pedagógica do Colégio Assunção, de São Paulo.
Diante do caso do menino Tiago as características de comportamento citadas por todos os profissionais da escola nos levam a crer que pela enorme falta de atenção e concentração e inquietude nas atividades poder-se-ia levantar uma hipótese de TDAH. No entanto, só os relatos não bastam para fechar um diagnóstico. É também necessária uma observação mais atenta em outros ambientes e posteriormente uma avaliação feita por profissionais especializados, pois existem outras hipóteses como um caso de baixa audição por exemplo. Uma criança com dificuldades auditivas pode tornar-se agitada e desatenta também.

A análise clínica do caso, portanto, deve ser extensa, ou seja, não é possível fazer diagnóstico em uma sessão rápida, apenas checando a lista de sintomas.
Além da análise clínica, o especialista poderá solicitar exames complementares, para identificar problemas simultâneos ou excluir outras possibilidades. Os exames podem ser desde físicos até avaliação cognitiva, neuropsicológica, comportamental e/ou emocional.
            Um indivíduo coloca em funcionamento uma série de processos neurológicos, afetivos e cognitivos quando enfrenta experiências novas. No caso de Tiago, a equipe escolar após encaminhá-lo para avaliação com especialistas, deverá então, enquanto aguardam os resultados, fazer um trabalho diferenciado em sala de aula, pois as crianças mais agitadas não apresentam limitação cognitiva e podem, perfeitamente, seguir uma escola regular se esta tiver a disposição de reconhecer suas dificuldades e procurar resolvê-las com adequação de currículo, flexibilidade na maneira de avaliar, atendimento mais personalizado e cuidadoso durante as aulas e tantos outros procedimentos que beneficiarão não só a ele, mas todos os alunos, como por exemplo: atividades estimulantes, significativas e não muito extensas.
"A escola deve a todos ouvir e a todos servir" (Aloísio Azevedo).
Reconhecer as particularidades de cada um é fundamental no processo ensino/aprendizagem. No caso de Tiago um bom diagnóstico é pré-requisito para o sucesso do tratamento e um diagnóstico completo só pode ser realizado por  especialistas. A escola deve então encaminhar esse aluno a especialistas capacitados para realização de diagnóstico, paralelamente deve conversar com os profissionais que trabalham diretamente com esse aluno na escola e familiares e fazer um trabalho diferenciado, procurando verificar pontos positivos em suas atividades, estabelecer períodos de descanso entre os exercícios e estabelecer conseqüências razoáveis e realistas para o não cumprimento das tarefas.
De acordo com Gómez (2009, p. 86) o professor tem um lugar importante na construção da aprendizagem. As atividades que ele realiza ajudarão na maturação do sistema nervoso central e na estruturação psíquica e cognitiva para que funcionem de acordo com as exigências do meio. A importância do professor que orienta os estudantes é muito grande. Eles têm que saber como as atividades que realizam com as crianças favorecem a sua maturidade.
Nesse processo que o aluno realiza ao construir o seu conhecimento, os progressos se misturam com as dificuldades, bloqueios e, inclusive às vezes, retrocessos. É muito importante compreender como as atividades favorecem o desenvolvimento de determinadas funções. Também é importante compreender que quanto mais cedo forem feitas as intervenções, maiores serão as possibilidades de compensar, reparar ou modificar as conexões cerebrais e seu funcionamento.


 Análise reflexiva sobre a aprendizagem com embasamento na Psicomotricidade e Psicolinguística

Segundo Nádia Maria Dias da Silva, a aprendizagem escolar é considerada um processo natural, que resulta de uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a criança deva sentir o prazer em aprender.
O estudo do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades são desenvolvidos pela Psicopedagogia, levando-se em consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam à condição do sujeito e interferem no processo de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa.
As dificuldades de aprendizagem na escola podem ser consideradas uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos.
Diante desse pressuposto, (Marinho, et al. 2007, p.84) ressalta que

a ludicidade deve ser um dos principais eixos norteadores do processo de ensino-aprendizagem, pois possibilita a organização dos diferentes conhecimentos numa abordagem metodológica com a utilização de estratégias desafiadoras. Assim, a criança fica mais motivada para aprender, pois tem mais prazer em descobrir e o aprendizado é permeado por um desafio constante.

Pode-se então afirmar que a aprendizagem se dá de forma mais significativa se a criança vivenciar as situações pedagógicas através do movimento, experimentando, realizando, sentindo, percebendo, pois tudo se dá pelo corpo e as brincadeiras e os jogos ocupam o papel principal nessa vivência, pois fazem parte do universo infantil.
Não só diante de casos como do aluno Tiago, mas em todo processo de ensino/aprendizagem a Psicomotricidade deve ser utilizada como alternativa de prevenção mental às crianças, pois oferece um espaço, onde se potencializam as competências e habilidades de comunicação, aprendizagem e socialização, necessidades estas essenciais para atender às demandas da sociedade em que vivemos.
 Guerra (2006, p. 12, apud Moro) aponta como objetivos do trabalho com a Psicomotricidade Relacional nas escolas:

promover a ação espontânea da criança através do jogo simbólico; estimular acriação de vínculos afetivos entre as crianças; enriquecer as experiências
                                              psicomotoras; prevenir dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica;
desenvolver a espontaneidade e a criatividade; colaborar no processo de construção dos limites; desenvolver as potencialidades individuais e do grupo; despertar a criança para o desejo de aprender contribuindo para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem; propiciar à criança o prazer no brincar espontaneamente; estimular a percepção corporal; promover a afirmação do eu; descobrir o corpo, através dos movimentos, como unidade de prazer; promover a autonomia; estimular o ajuste positivo da agressividade; elevar a qualidade das relações interpessoais entre as crianças promovendo a socialização.

De acordo com Lakomy, (2008, p. 84) a sala de aula é uma comunidade de aprendizagem que tem o professor como coordenador que deve estimular o conhecimento por meio das várias teorias da aprendizagem e refletir sobre como gerir esse espaço para que seus alunos obtenham o maior benefício possível. A maneira, portanto de funcionamento de uma comunidade de aprendizagem deve ser a adoção da prática de atividades conjuntas entre professor e aluno em torno de conteúdos e tarefas escolares, nas quais a linguagem é o instrumento por excelência que permite a construção dos significados.
De acordo com Zorzi, (1993) "a linguagem deve ser concebida no contexto da interação social, não simplesmente como meio de transmissão de informação, mas sim como projeção das próprias pessoas, veículo de trocas, de relações, como meio de representação e comunicação. Neste sentido, a linguagem possui uma dinâmica, que implica a participação do outro, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo infantil. A linguagem é por um lado, um meio de interação, de relação e de construção do conhecimento; e, por outro lado, algo que a criança precisa conhecer e dominar: linguagem como meio e objetivo do conhecimento ao mesmo tempo".
Ainda hoje, pouco se sabe sobre como os humanos desenvolveram a linguagem, no entanto é ela que nos faz seres humanos. De acordo com Godoy (2009, p. 29) os psicólogos e lingüistas que estudam a aquisição da linguagem pelas crianças se dividem quanto à natureza desse processo. Para uns, ele é “natural”, no sentido de ser biologicamente especificado no genoma humano; para outros, pelo contrário, trata-se de um fenômeno “cultural”, aprendido, embora tendo como base a elevada inteligência humana geneticamente programada.
Ainda de acordo com a mesma autora, a postura atualmente mais aceita afirma que a linguagem humana responde a um “instinto” inato, ou seja, genético, próprio e exclusivo da nossa espécie. Segundo ela, a teoria proposta por Noam Chomsky em 1965 postula que a criança possui uma espécie de dispositivo para a aquisição da língua. Para estudar e conhecer mais sobre o processo de aquisição da linguagem tem a Psicolinguìstica, ciência que estuda a relação entre mente e linguagem e que caminha para o objetivo de descrever e explicar o funcionamento da linguagem como fenômeno psíquico, levando em consideração a complexa interação de múltiplos fatores internos e externos e incluindo em sua perspectiva de investigação o indivíduo nas suas interações socioculturais.
Pode-se ressaltar, no entanto, que a fala é uma importante ferramenta psicológica organizadora. Através da fala, a criança integra os fatos culturais ao desenvolvimento pessoal. Quando, então ocorrem falhas no desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição da linguagem verbal e escrita.
É imprescindível, portanto, que a escola estimule atividades corporais, para além da sala de aula, propiciando experiências que favorecerão a aprendizagem.



Considerações Finais


Desde o nascimento, o que salta aos olhos no desenvolvimento infantil é o corpo e seus movimentos que, inicialmente, não apresentam significados ainda inscritos. Aos poucos, este corpo em movimento transforma-se em expressão de desejo e, posteriormente, em linguagem. A partir daí, a criança é capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações que se transformam em faz-de-conta. Assim, a criança consegue separar o objeto de seu significado, falar daquilo que está ausente e representar corporalmente. Este processo nada mais é do que a vivência dos elementos psicomotores dentro de contextos histórico-culturais e afetivos significativos, é o que diz Amanda Cabral Goretti, em seu artigo sobre psicomotricidade. E isso é que garantirá a aprendizagem de conceitos formais aliados à aprendizagem de conceitos do cotidiano: construir textos, contar uma história, dar um recado, fazer compras, varrer a casa, utilizar as operações matemáticas para contar quantas pessoas vieram, quantas faltaram, etc.
Além disso, para chegar a uma coordenação motora fina, necessária à construção da escrita, a criança precisa desenvolver a motricidade ampla, organizar seu corpo, ter experiências motoras que estruturem sua imagem e seu esquema corporal.
Portanto, a psicopedagogia e a psicomotricidade estão intimamente ligadas. Antes de aprender a matemática, o português, os ensinamentos formais, o corpo tem que estar organizado, com todos os elementos psicomotores estruturados. Uma criança que não consegue organizar seu corpo no tempo e no espaço, não conseguirá sentar-se numa cadeira, concentrar-se, segurar num lápis com firmeza e reproduzir num papel o que elaborou em pensamento.
Os conceitos básicos da aprendizagem são experimentados primeiramente no corpo do sujeito para que depois possam ser representados, “inscritos pelas palavras para serem escritos por palavras”. Assim, fica constatada a importância do professor estar oferecendo vivências motoras adequadas às crianças para que seu corpo vivido haja positivamente no processo de aprendizagem de conceitos formais e informais.
Grassi (2009, p. 136) concebe a aprendizagem como:

processo dinâmico e ativo em que a criança, numa relação mediada por um outro, vai se apropriar dos conhecimentos historicamente construídos e vai também produzir conhecimentos novos. É preciso que se considere o aprendiz como um ser biopsicossocial, em constante processo de transformação, inserido num meio social, econômico, cultural, histórico e político.

Cabe então mencionar, segundo a mesma autora, que o psicopedagogo analisa o sujeito inserido num contexto relacional complexo. É preciso, antes de qualquer diagnóstico, conhecer e considerar o sujeito, sua família e todos os elementos envolvidos nessa teia relacional – sua história, sua origem, crenças e valores, cotidiano, comunidades, escola, colegas e professores – além das determinantes do processo de aprender e da não-aprendizagem.



Referências Bibliográficas


CIASCA, S. M. (org.) Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

GODOY, E. Psicolinguística. Curitiba: Reproset Indústria Gráfica, 2009.

GORETTI, A. C. A Psicomotricidade. Disponível em: http://www.cepagia.com.br/ (acesso em 07 set. 2009)

GRASSI, T. M. Psicopedagogia: um olhar, uma escuta. Curitiba: Ibpex, 2009.

LAKOMY, A. M. Teorias cognitivas da aprendizagem. 2. Ed. ver. e atual. – Curitiba: Ibpex, 2008.

MARINHO, H. R. B... et al. Pedagogia do Movimento: universo lúdico e psicomotricidade  – 2.ed. Curitiba: Ibpex, 2007.

MÖOJEN, S. M. P. Caracterizando os Transtornos de Aprendizagem. In: BASSOLS, A. M. S. e col. Saúde mental na escola: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003.

MORO, D. R. P. A Psicomotricidade Relacional na Escola Responsável pela Qualidade nas Relações Interpessoais. (Artigo disponível no AVA)

SILVA, N. M. D. Dificuldades de aprendizagem. Colégio Santa Maria. Rio de Janeiro.

ZORZI. (1993). Desenvolvimento de linguagem. Disponível em: http://www.geocities.com/hotsprings/falls/3233/desenlgg.html (acesso 07 set. 2009)



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